domingo, 29 de março de 2009

Memórias fantásticas de familia

Há coisas fantásticas, vidas fantásticas, momentos fantásicos... e tudo nesta vida se trata apenas de pequenos momentos de felicidade. Eu nunca tive nada disso.
Falando um pouco de mim, da minha vida... de fantástico até agora não tive nada. Apenas uma coisa, da qual mais a frente irei falar. A minha vida parece uma autêntica novela mexicana. Nenhnum dos meus famiiares é bom da mona, como poderia eu ser uma pessoa dita normal ? Nada. Problemas, problemas e mais problemas. Um pai alcoólico, uma mãe ex-toxicodependente, uns avós que ainda vivem na era da Pedra... As minhas irmãs até que são gentinha dita normal, mas nunca a 100%. Por falar nisso, quando é que uma pessoa é considerada normal nos limites da nossa sociedade? É por estudar, trabalhar, ser como deve de ser, andar sempre feliz e coisas dessas ? Não percebo. Será que só não sou normal por ter um dito problema psicológico? Não sei, mas ainda tou pa descobrir. Continuando a conversa anterior, os meus pais separaram-se tinha eu 3 anos e a minha irmã mais velha 8. Não me recordo de quase nada, apenas da parte em que havia uma mulher com o meu pai, onde supostamente deveria estar a minha mãe. Não me recordo de ver os meus pais juntos(talvez até tenha sido bom, ou não). Sempre fui uma menina que não chateia ninguém nem se aborrece com nada, salvo seja quando me "atacam". Separaram-se e eu e a minha irmã, a Sophie, fomos morar com a minha mãe. É engraçado andar a mudar de casa de mês a mês, calcule-se porquê... Devemos ter tado nesta mudaça repentina de lares por uns 6 meses. Se calhar a minha mãe não juntasse o dinheiro suficiente para pagar a renda ou o gastasse em outras coisas. Ou então era mesmo porque os senhorios não gostavam de nós. Fantásico. Em 6 meses mais ou menos rodei bastantes prédios, até que a minha mãe, a Marie fugiu com um homem para Lamego e deixou as filhas a porta do prédio da sua mãe, a nossa avó, Christel. Fantástico. O meu pai conseguiu ficar com a nossa custódia. Entretanto o meu pai conheçeu a sua "princesa" e foi morar com ela. Casaram-se e tudo. A "princeza" chamava-se Luordes e tinha mais 2 filhas, a Andreia e Susana. Com a família a crescer e sem sítio para mim e para a Sophie ficar, o meu pai teve que construir uma casa bem maior, para caber toda a gente lá dentro. e foi aí que a maior parte dos problemas começaram. Sophie assistiu a tudo de uma maneira bastante diferente da minha, pelo que eu não meu apercebia de nada. Ciúmenta é a palavra que define Sophie. Ver Lourdes com o meu pai deixava-a fora de si. Fazia-lhe trinta por uma linha. Até se bateram. E eu ali uma menina pequenina a viver no seu pequeno mundo so seu, sem se aperceber de nada. Os prolemas continuavam e eu tinha sempre um sorriso estampado na cara. Só fazia birra se me obrigassem a comer tudo. De resto tava tudo perfeito. Tinha uma casa grande, um quarto só para mim,uma família grande, um câo, que poderia mais eu qerer?
Lourdes começou a sofrer violência doméstica e saíu de casa. Com os meus 5/6 aninhos aquilo era uma coisa tão esquisita! Mas prontos não é comigo não me ia chatear.A partir daí o meu o meu pai arranjou mais de trezentas mil mulheres para pôr la em casa. Acredito que não tenha sido fácil para ele ser paí e mãe ao mesmo tempo, e claro o homem tem que seguir a sua vida e tentar ser feliz, mas devia diminuir as quantidades de alcoól porque isso de certeza que não o ajuda em nada. Todas as infelizes que passaram pela minha casa sofreram o mesmo. Já só faltava eu e a Sophie. Um dia chegou a vez de a Sophie responder torto ao alcoolizado da casa e desceu os degraus as cambalhotas. Queixa na Polícia. Saiu de casa, mas para lá teve de voltar, pois não tinha para onde ir. Conheçeu o Andrew enquanto estavam na escola e agora ja moram juntos e ja têm uma filhota, a Luisa. è tão gira o raio da garota ! Fiquei eu e o meu pai abandonados num casarâo enorme! Conheçeu uma Zuca na net que morava em Los Angeles, e foi la buscá-la. e Pronto, já não bastava ter que ir viver com uma Zuca, a gaja foi buscar a filha ao Brazil. No início tudo bem, pareciam pessoas espectaculares, mas depois veio-se a descobrir o verdadeiro interior daquelas víboras. Foi aí com 18 anos que eu me revoltei. Foi a revolta da Ann Amelie. Começei a trabalhar e deixei os estudos. Tinha uma vida tanto infernal como óptima com aquelas zucas lá por casa. Óptima porque tinha horários mais alargados. Infernal porque a Zuka mãe inventava coisas sobre mim ao meu pai. Grrrrrrrr . Começei-me a passar completamente ! A gaja fazia a cabeça ao meu pai e virava-o contra mim, então fui expulsa de casa. Fui morar com os meus avós paternos, sim aqueles com mentalidade da Idade da Pedra. Era melhor que nada. Foi o maior dos meus stresses. Tive que aguentar. Apesar de tudo foram uns bons meses, principalmente pa engorda! Entretanto voltei pa casa do meu pai e começámo nos a dar um pouco melhor.

( Continua...)

Elogio ao Amor ( Miguel Esteves Cardoso)

"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas.Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber.Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e é mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões.O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática.O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, banançides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?O amor é uma coisa, a vida é outra.O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos.Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo.O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. é uma questão de azar.O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra.A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina.O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente.O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessýria. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser.O amor é uma coisa, a vida é outra.A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.Não se pode ceder. Não se pode resistir.A vida é uma coisa, o amor é outra.A vida dura a Vida inteira, o amor não.Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."